Antropomorfismo
Bem, pausa para falarmos de um assunto que sempre me incomoda dentro do cenário de “fantasia”. Sobre qual é o assunto, você me pergunta? Bem, é sobre antropomorfismo.
O antropomorfismo é o ato de atribuir características humanas (físicas, emocionais ou comportamentais) a seres não humanos. Na fantasia, isso geralmente se manifesta na criação de criaturas que, apesar de serem descritas como "monstruosas" ou "exóticas", possuem corpos humanoides, dois braços, duas pernas, cabeça no topo do corpo, etc.
Embora essa abordagem seja compreensível por razões práticas (como facilitar a animação, a produção de figurinos ou até mesmo a identificação do público), ela frequentemente sacrifica a criatividade e a plausibilidade biológica.
Não estou dizendo que devemos abandonar o corpo humano como base para outras espécies humanoides. No entanto, em muitos casos, essa abordagem tira toda a criatividade ao criar uma nova raça ou espécie. Vou demonstrar isso com alguns exemplos que sempre me chamam a atenção. Algo que deveria ser diversificado, devido à estrutura corporal do ser, acaba sendo simplificado para fins narrativos e para o enredo do protagonista, seja em séries, livros, jogos ou qualquer coisa que utilize a “fantasia” como um todo.
Bem, é importante sentar-se, não que seja uma longa história ou nada do tipo, mas foi onde percebi isso. Não foi a primeira vez, óbvio, mas foi o que me levou a criar tal postagem:
Eu sempre joguei com personagens femininas. O protagonismo masculino é algo que, ao meu ver, já passou da hora de ser posto de lado. Não por motivos fúteis de guerra de opiniões ou futilidades do mundo moderno, longe disso. Simplesmente porque, se pararmos para pensar, tudo envolve machos em posições de heroísmo. Mas isso é assunto para outra postagem, caso venha falar alguma asneira do tipo, pense bem antes de comentar, afinal, cérebro serve para isso. Mas voltando ao tópico.
Eu tinha acabado de comprar o remasterizado de Oblivion. Sim, Elder Scrolls, sou fã da franquia por conta do “realismo” da fantasia que o universo coloca em suas narrativas. Não estou falando de algo literalmente “realístico”, mas sem querer ofender outros universos (e já os ofendendo), é no Elder Scrolls que chegamos mais próximo de uma fantasia “pé no chão”. Lá, espécies têm suas variedades, mas no fim, todos são humanoides que podem e serão mortos se bobearem. Ou seja, não importa se você é imperador ou dragonborn, tudo é mortal e pode ser morto por meios normais, como venenos, assassinatos, emboscadas, etc. Isso sempre me deixou fascinado com o universo do Elder Scrolls, especialmente após ler alguns de seus livros. Mas esqueça isso, voltando à cena.
Criei uma Bosmer que deveria ser uma espécie de druida. PS: Acabei virando assassina, porquê sim. >.< Mas esse não é o caso. Estava lá pelo nível 4 ou 5 e entrei numa caverna cheia de ogros. Perceba que eu já tinha jogado Oblivion, mas nunca tinha jogado a sério por conta dos gráficos e jogabilidade travada do jogo antigo (sim, sou crítico de jogabilidade ruim e não consigo jogar algo que me faça sentir “travado”). Mas isso fica para outro dia. (Divagações do tipo fazem parte do meu aspecto de TDAH e TEA). Voltando aos ogros...
Quando se é uma assassina com furtividade, arco e, claro, sendo uma Bosmer, você consegue tirar um dano (dano) incrível contra quase todos os seres, aproveitando a mecânica de furtividade e ataque “surpresa”. Isso às vezes me permitia causar 3x ou até 2x o dano normal do ataque, ou seja, quase nenhum inimigo conseguia suportar o dano da minha flechada. Mas isso não ocorria com os ogros. Não importava o quão escondida minha personagem estivesse, ela simplesmente não criticava. Era como se eles fossem mais robustos do que os bandidos comuns que eu matava na estrada ou cavernas, o que me levou a refletir sobre isso. Não apenas sobre a resistência, mas se fazia sentido uma elfa bosmer estar praticamente matando ogros com três ou quatro flechas. Entendem?
Primeiro, apesar da resistência inicial, achei estranho que seres tão corporalmente superiores, digo, a estatura de um ogro geralmente vai de 2,5 metros a 3 metros de altura, ainda tenham a anatomia de um humano forte ampliado. Pele que pode ser cortada facilmente, estrutura óssea insuficiente para suportar seu peso real e movimentos ágeis demais para sua massa. Um ogro realista seria uma muralha de músculo denso, com pele mais grossa que couro de hipopótamo, movendo-se como um tanque, não como um bárbaro atlético.
Não concordam? Imagine que você, uma pessoa humana, pegasse uma espada e tentasse perfurar um elefante ou um hipopótamo. Acha mesmo que sua força, combinada com sua estatura, seria suficiente para causar algum ferimento fatal em tal ser? Isso, ignorando a reação do animal, claro. Agora vamos para a parte interessante: a estrutura corporal. Animais em geral são mamíferos, certo? Mas diferem em termos anatômicos dos humanos, não? Então por que, quando falamos de fantasia, o mesmo não ocorre com outras espécies? Não estou falando de alterar tudo visualmente, longe disso. Mas, por exemplo, como citei acima... Ogros poderiam ter uma pele mais dura, ossos bem mais resistentes, sem aquela ideia patética onde um protagonista foca no ligamento do joelho e o derruba (algo bem clichê em fantasias de modo geral). Por que diabos os ligamentos seriam nos mesmos lugares ou, melhor ainda, por que seriam tão frágeis a ponto de um corte os romper? Entendem?
A ideia é demonstrar o quão preguiçoso a fantasia pode ser. E, novamente, longe de mim estar criticando o modo como alguém faz seu mundo e etc. É apenas algo que me incomoda pessoalmente. Façam o que quiserem fazer, essa sempre será a única lei. Mas para mim, como um apreciador de fantasia, vejo isso como um erro, algo que poderia ser melhor, entende?
Outro
exemplo é o caso dos dragões. Aqui, não é um problema de antropomorfismo, mas
da falta de explicações convincentes para os mesmos voarem. Ou seja, estou
apenas seguindo a lógica que faz com que as aves possam voar, sua estrutura
única que faz com que seus ossos sejam ocos para terem um peso menor,
permitindo que esses seres voem. Contudo, com dragões, eles deveriam seguir o
mesmo sistema, correto? Afinal, um ser colossal deveria ter alguma explicação
plausível para poder subir aos céus. E, por favor, nada de citar “magia” como
desculpa. Magia não é colocar “Magia” e fingir que está tudo bem. Segue um
pouco de raciocínio abaixo:
Um osso oco de pássaro, por exemplo, é leve e reforçado internamente com traves ósseas (tipo estruturas cruzadas internas) para aguentar impactos e torções.
Para um dragão de 15 metros, seus ossos ocos seriam enormes e reforçados internamente, como vigas de uma catedral. As escamas seriam a primeira linha de defesa e, sim, seriam espantosamente resistentes: impenetráveis a flechas comuns, difíceis até para lâminas especializadas.
A combinação de escamas externas + estrutura óssea inteligente tornaria o dragão plausivelmente um tanque voador, resistente a golpes de armas brancas e apenas vulnerável a ataques muito concentrados ou mágicos.
Percebem o que fiz aqui? Juntei um aspecto do mundo real e dei vida a um conceito que mescla com os dragões do meu mundo. Por mais que seus ossos sejam “ocos” e leves, isso não os faria menos resistentes do que deveriam ser, mantendo a parte da fantasia dos dragões viva e fortes. Contudo, não me venham com aquelas fantasias mesquinhas onde dragões morrem por espadas ou magias baratas.
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